Entrou na sala sem bater e jogou-se na cadeira em frente da minha mesa. Suava. Era evidente que estava nervoso.
-Pastor,
estou perdido! - disse sem rodeios. Apenas três palavras. Seria
desnecessário dizer mais para descrever a tragédia de uma alma em
conflito. Podia aceitar essa declaração de qualquer outra pessoa, não
daquele rapaz. Eu o conhecia muito bem: era um jovem exemplar, um fiel
membro da igreja. Mas estava ali, com os olhos lacrimejantes repetindo:
-Pode
crer, pastor, estou perdido! Sou cristão de berço. Todo mundo acha que
sou um bom membro da igreja. Meus pais acreditam que sou um filho
maravilhoso. Os membros da igreja acham que sou um jovem consagrado.
Eles até me nomearam Diretor dos Jovens. Muitas vezes ouço os pais
dizendo a seus filhos: "Gostaria que você fosse como aquele rapaz!"
Todos acham que sou um modelo de cristão, mas não é verdade pastor, eu
sou uma miséria. Acabo de fazer algo horrível e não é a primeira vez.
Fiquei desesperado, angustiado como das outras vezes. Tive vontade até
de morrer. Eu não sou o que todos pensam que sou.
Tentei dizer alguma coisa, mas ele cortou:
-
Eu não quero ser assim pastor, eu quero ser um cristão de verdade, mas
não consigo. Tenho lutado tantas vezes, tenho me esforçado, mas sempre
acabo derrotado.
Doeu-me ver assim aquele jovem.
- O senhor está desapontado comigo, não está? - perguntou depois, com ansiedade.
Desapontado?
Eu tinha era um nó na garganta. Procurei esconder minha tristeza, minha
dor, porque na realidade o drama não era só daquele jovem. Eu sabia que
muitos jovens de minha igreja também vivem essa triste realidade.
"Pastor, estou perdido!" Perdido? Sim, perdido dentro da igreja.
É
possível estar perdido dentro da igreja? Infelizmente é, sim. Existem
os que, como no caso desse jovem, estão perdidos fazendo coisas erradas
enquanto ninguém vê, mas existe outra classe de perdidos: aqueles que
fazem tudo direito, cumprem aparentemente tudo que a igreja pede, vivem
preocupados com detalhes de regulamentos e normas, mas estão igualmente
perdidos.
Há um texto bíblico que fala do jovem
rico. "E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se
ajoelhou diante dele, lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a
vida eterna? E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? ninguém há bom
senão um, que é Deus. Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não
matarás; não furtarás; não dirás falsos testemunhos; não defraudarás
alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele porém, respondendo lhe disse:
Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade. E Jesus olhou para
ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto
tens, e dá-os aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.
Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuia
muitas propriedades" (S. Marcos 10:17 a 22).
O
jovem rico era um rapaz como qualquer jovem da igreja de hoje. Era
membro de uma congregação cujos líderes se preocupavam muito com normas,
leis e regulamentos. "Não pode fazer isto". "Não pode fazer aquilo".
"Fazer isto é pecado". "Fazer aquilo também é pecado". Aquele jovem
cresceu tendo um conceito errado de Deus. Imaginava-O sentado no Seu
trono de justiça, ditando regras, com o rosto sério e uma vara na mão,
pronto para castigar o desobediente. Desde pequeno seus pais e os
líderes da igreja exigiram o fiel cumprimento de todas as normas. Eram
líderes preocupados com a imagem da igreja. O que realmente importava
para eles era que as pessoas cumprissem as normas, que fossem bons
membros de igreja e nada mais. O jovem rico aprendeu desse modo a
cumprir todas as normas e leis. Aparentemente era um jovem bem
comportado, ativo na igreja, participava das programações e cultos,
podia ser apontado como exemplo para outros, mas alguma coisa estava
errada: não era feliz, tinha a sensação de que estava perdido apesar de
cumprir tudo. Certo dia anunciaram a chegada de Jesus à sua cidade. A
história está registrada no capítulo 10 de São Marcos. Os líderes da
igreja, ainda preocupados somente com o cumprimento rígido das leis,
foram os primeiros a sair ao encontro de Jesus. O registro sagrado narra
assim: "E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe,
tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher?" (Marcos 10:2). Você
percebe a inquietude daqueles líderes? Sua grande preocupação era apenas
com os detalhes.
Seria possível que hoje os
líderes também caiam no mesmo erro? "É pecado cortar o cabelo?" "É
pecado orar assentado?" "É pecado ter um pátio de recreações ao lado do
templo?" "É pecado ir à praia?"
O Senhor Jesus
não se deteve muito tempo a discutir com eles. Dirigiu-Se aonde estava
um grupo de crianças, colocou-as no colo, com amor acariciou-lhes a
cabecinha e beijou-lhes os rostinhos inocentes. O jovem rico ficou
emocionado ao ver aquele quadro. Ele nunca poderia imaginar que Jesus
fosse capaz de beijar e fazer um carinho. Não era essa a imagem que ele
tinha aprendido acerca do Filho de Deus. Pela primeira vez na vida teve
vontade de abrir o coração a alguém. Correu quando Jesus já estava
saindo da cidade, ajoelhou-se perante Ele e disse: "...Bom Mestre, que
farei para herdar a vida eterna?" (Marcos 10:17).
Ele
estava dizendo na realidade: "Bom Mestre, que farei para ser salvo? Eu
sinto que estou perdido. Não tenho certeza da salvação."
Por
que? Acaso não era um bom membro da igreja? Não cumpria todas as
normas? Ah! meu amigo, cumprir mandamentos nunca foi sinônimo de
salvação. Ser um bom membro de igreja não quer dizer estar salvo.
É, de algum modo, possível obedecer a tudo e estar completamente perdido. Perdido, dentro da igreja!
O
Senhor Jesus tentou levar o jovem do conhecido ao desconhecido. O jovem
conhecia a letra da lei, as normas, os regulamentos e Jesus lhe disse:
"Tu sabes os mandamentos..." (Marcos 10:19).
Este
foi um tratamento de choque. "Ele, porém, respondendo, lhe disse:
Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade" (Marcos 10:20).
...Mas
a angústia não desaparece, o desespero aumenta, a sensação de estar
perdido é cada vez maior". Jesus olhou para ele com ternura e o amou.
Sabe?
Jesus também ama você. Não importa se você é pobre ou rico, se é preto
ou branco, se é feio ou bonito. Ele o ama. Ele o compreende. Isso é o
que diz a Bíblia. Você é a coisa mais importante para Deus, não importa o
momento que esteja vivendo. Você, com suas lutas, com seus fracassos,
com seus conflitos, com suas dúvidas e incertezas; você com suas
deformações de caráter, com seu temperamento irascível, é objeto de todo
amor e carinho de Deus. Pode ser que em algum momento de sua vida você
sinta que ninguém gosta de você, que seus pais não o compreendem, que
seus professores não reconhecem seu valor, que a vida lhe negou as
oportunidades que deu a outros, que o mundo inteiro não o aceita. Pode
até ser que você não goste de você mesmo. Tudo isso pode, de algum modo,
ser verdade, mas Deus gosta de você, Ele o compreende. Neste momento,
tenha certeza de que Ele está bem perto de você, pronto a ajudá-lo, a
socorrê-lo, a valorizá-lo.
Lá na Judéia, além
do Jordão, séculos atrás, Cristo olhou com amor o jovem rico. Viu seus
conflitos internos, suas lutas, suas angústias. Viu sua desesperada
situação: perdido dentro da igreja, perdido cumprindo todos os
mandamentos, perdido obedecendo a todas as normas. "Sabe qual é seu
problema, filho?" - disse Jesus - "apenas um: você não Me ama. Em seu
coração não há lugar para Mim, em seu coração só há lugar para o
dinheiro. Você está disposto a guardar mandamentos, mas você não Me ama,
e enquanto não Me amar Eu não aceito nada de você. Não adianta guardar
mandamentos, cumprir normas, obedecer regulamentos; se você não Me amar,
nada disso tem sentido e você continuará com essa horrível sensação,
com esse vazio na alma. Vamos fazer uma coisa, Meu querido filho, você
agora vai para casa, tira do coração o amor às coisas deste mundo,
coloca-Me como o centro de sua vida, então venha e siga-Me". A Bíblia
diz que o jovem, "...pesaroso desta palavra, retirou-se triste..."
(Marcos 10:22).
Que tragédia! Estava mais
pronto a guardar mandamentos do que amar o Senhor Jesus. Por quê? Talvez
porque é mais fácil aparentar que se é bom do que entregar o coração a
Deus.
É possível que você esteja pensando:
"Felizmente eu não tenho riquezas". Pode ser. Mas, às vezes, não
precisamos ter riquezas para destronar Jesus do coração. Seria possível
você amar mais um artista de televisão do que Jesus. Um esporte, uma
namorada, uma profissão, os estudos, coisas até boas, mas que podem
ocupar o lugar de Cristo no seu coração. Pode ser até que você ame mais a
sua igreja, a doutrina da sua igreja, o nome da sua igreja, do que o
Senhor Jesus.
Pergunto: Qual deveria ser a
nossa primeira preocupação, amar a Jesus ou guardar normas? Às vezes,
estamos mais preocupados que os jovens obedeçam as normas e não que amem
a Jesus. O interesse de Jesus é diferente: "Dá-Me, filho Meu, o teu
coração", diz Ele enquanto bate à porta do coração humano.
Há
algo que nunca deveríamos esquecer: é possível de alguma maneira
cumprir normas sem amar Jesus, mas é impossível amar Jesus e deixar de
cumprir as normas. Então, qual deveria ser o nosso primeiro interesse, o
nosso grande objetivo? Se o ser humano amar a Jesus com todo seu
coração, será incapaz de fazer algo que magoe o seu Redentor. Sua vida,
em conseqüência, será uma vida de obediência.
Sabe
qual é o nosso grande drama na vida espiritual? Sabe por que não somos
felizes na igreja? Falta amor por Cristo. Estamos na igreja porque
gostamos dela, a sua doutrina nos convenceu, o pastor fez um apelo
irrecusável. Estamos na igreja porque nossos pais querem, ou então, para
agradar aos filhos ou a esposa, ou simplesmente porque todo ser humano
tem que ter uma religião, mas não porque amamos a Jesus a ponto de
dizer: "Eu não posso viver sem Ti".
- Pastor -
disse-me uma velhinha certo dia - tenho quase 60 anos de casada. Pode
perguntar a meu marido e ele dirá que sempre fui uma esposa perfeita.
Fiz tudo o que uma boa esposa deve fazer, agi sempre do modo certo, mas,
nunca fui feliz.
- Por que? - perguntei.
- Eu não amo meu marido, pastor. - Foi a resposta.
- Mas, então, por que se casou?
A velhinha emocionou-se ao dizer:
-
Nos meus tempos de mocinha a gente não escolhia marido. Eram os pais
quem escolhiam marido para a gente. Um dia meu pai disse: "Filha, daqui a
dois meses você vai se casar com o filho do meu compadre". O enxoval
foi preparado. A festa ficou pronta e, faltando dois dias para o
casamento, conheci meu noivo. Não gostei. Nunca consegui gostar, mas
casei porque tinha que obedecer. Fui uma esposa perfeita, mas nunca fui
feliz.
Como ser feliz ao lado de alguém que não
se ama? O batismo é uma espécie de casamento com Cristo. Muitos
cristãos talvez pudessem dizer: "Senhor, estou na igreja, batizado há
cinco anos, ou dez, ou quinze anos. Nesse tempo todo, de alguma maneira,
cumpri o que a igreja pede. Mas nunca fui feliz." Por que? Porque não é
possível ser feliz ao lado de alguém que não se ama. Conviver ao lado
de alguém que se ama já é uma tarefa desafiante, imagine quando não há
amor. Nunca poderemos ser felizes estando na igreja porque nascemos
nela, ou por causa da pressão social, religiosa ou familiar. Todos os
motivos só têm algum sentido quando o grande motivo é o amor por Cristo.
Se não for assim, a vida cristã se tornará um "inferno", um fardo
horrível para se carregar. Fazer as coisas só porque estamos batizados,
só porque temos que cumprir as normas de uma igreja que assumimos, só
para agradar aos homens é a pior coisa que pode acontecer. Sempre
estaremos pensando em sair, abandonar tudo, ou então, quando ninguém vê,
estaremos fazendo as coisas erradas.
Todas as
normas da igreja, todas as coisas que tenhamos que abandonar, tudo que
tenhamos que aprender terá algum significado unicamente quando o amor de
Cristo constranger nosso ser. A nossa primeira oração não devia ser:
"Senhor, ajuda-me a guardar Teus mandamentos", mas, "Senhor, ajuda-me a
amar-Te com todo meu ser".
O jovem rico partiu
triste e não voltou mais. Estava pronto a ser um bom membro de igreja,
mas não a entregar o coração ao Mestre.
Alguma
vez você já se perguntou porque está na igreja? Você acha que Cristo
veio a este mundo para que as igrejas cristãs estivessem cheias de
pessoas tentando portar-se bem ou Ele veio para que as pessoas fossem
realizadas e felizes?
Neste momento, embora você não possa vê-Lo, Jesus está aí perto de você com os braços abertos dizendo: "Venha a mim, Filho."
Está
você triste? Venha a Jesus. Ele confortará sua alma cansada. Sente-se
só? Venha a Jesus. Ele preencherá seu coração de tal maneira que não
sentirá mais o frio da solidão. O peso da culpa de algum erro passado o
atormenta? Venha a Jesus. Ele morreu para pagar o preço de seus erros e
está disposto a dar-lhe hoje a oportunidade de começar uma nova
experiência. Não importa quem é você ou como você viva. Não importa seu
presente, nem seu passado. Não importa suas virtudes ou defeitos; suas
vitórias ou derrotas. Venha a Jesus e lembre-se: Você é a coisa mais
linda que Ele tem neste mundo. Ele o ama e deseja fazer parte de sua
vida. Está você disposto a abrir-lhe o coração?
Fonte:ministeriobullon.com
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